EM NOME DO FILHO
Fico com a ideia que a questão da adopção está a ser conduzida segundo dois movimentos originários da mesma raiz. Na origem estará uma legítima vontade de diminuir o número de crianças sem família; gente que cresce por metade (e que passam o resto da vida a encher a outra metade com todos os líquidos nocivos que a sua baixa autoestima inventa). Quanto à forma de lá chegar, as coisas dividem-se entre os grupos do "muito bem...mas", sendo que o "mas" corresponde à sua visão de modelo funcional de sociedade. E os que acrescentam a expressão "incluíndo também". A proposta destes últimos é a mais arriscada, logo imediatamente rejeitada pelos nossos políticos. Parte do pressuposto que a sociedade é constituída por vários grupos e que família pode ser outra coisa que pai, mãe e apartamento. E esta é a causa principal da alergia: para a maioria dos portugueses ou da sua prática verbal, não podem existir outras formas de estar. Logo, duas mulheres que se amam estão completamente erradas; fracassaram na mais elementar das coisas que é "arranjar homem". Como é que lhe poderemos confiar uma criança? Se nem delas conseguem tratar? Não mencionando que se têm essa terrível doença que é a não-heterossexualidade como garantir que não contagiarão a criança? O melhor é não correr riscos.
Quanto aos homens ainda pior. Embora se tenha ultrapassado a fase de cuspir no chão em público enquanto se grita "matem-me esses paneleiros todos", ainda vivemos (nas cidades, leia-se) um tempo em que se diz "cada um na sua", mas que entre os amigos se confidencia que "o sacana do roto do Tavares disse que me considerava seu amigo: Fdsse!!!". Educarem uma criança? Fdsseeeeeeeee!!!!
Etc., etc.
Na verdade, está-se apenas a retardar a inevitável integração dos vários grupos... E a consequente atribuição de direitos. Talvez fosse altura de lembrar que uma das razões porque o divórcio foi ilegal no nosso país foi para "evitar a discriminação dos filhos pelas outras crianças". Agora, quem é que é marginalizado no recreio por isto?
Acho absolutamente inútil que se façam debates apaixonados pelo assunto. O tempo tudo nivelará. Claro que esse tempo que está para vir já não será o tempo das crianças de hoje. Mas, que diabo, elas que cresçam o melhor que forem capazes. E se não recuperarem do oito emocional em que se encontram, paciência. Cá teremos as prisões e os centros de recuperação para toxicodependentes à sua espera...
Dramático? Nem por isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário